O Sesc Deodoro deu o ponta pé inicial ao “Overdose”, programação com 12 horas de apresentações culturais, que marca o encerramento da 8ª Aldeia Sesc de Guajajara de Artes ocorrido nesta sexta-feira, 1º de novembro. Como o próprio tema deste ano propôs, as atividades versaram as híbridas linguagens que coexistem no campo da arte. Teatro, música, dança, poesia ou tudo isso “junto e misturado” que representou a Aldeia em 2013.
Poesia e teatro encontram-se para dá vida a Intervenção Poética “Realejo” que toma vida pelas mãos do “clown”, Gilson César. O artista une elementos clássicos como o palhaço e a poesia para aproximar os poetas do público. A intervenção é composta basicamente por uma gaiola com uma caixa de som acoplada (que emite som ambiente) e Gilson girando uma manivela e abordando os passantes para que libertem a poesia. A inspiração do clown vem das ruas de São Paulo, onde ele morou por alguns anos: “Nas ruas de São Paulo existem os periquitos, que chamam as pessoas para retirar e ler em voz alta as poesias que estão presas na gaiola”.
Para a Aldeia Sesc, Gilson César escolheu quatro grandes poetas brasileiros para “libertar” suas obras. A intenção é agradar adultos e crianças, e trazer a poesia para o dia-a-dia das pessoas. “Escolhi Nauro Machado, Lúcia Santos, Celso Borges e Mário Quintana para compor essa intervenção, a poesia deles passa por todas as idades”, relatou o artista. Durante toda a semana em que se apresentou na Área de Vivência do Sesc Deodoro, Gilson frisou o interesse do público infantil pela intervenção: “Acabei colocando algumas poesias infantis de Mário Quintana, as crianças gostam muito”.
Amanda e Erilene Mendes foram as primeiras que libertaram a poesia, no último dia da Aldeia Sesc. Erilene acompanhou Amanda, sua filha de sete anos, que apesar de pequena já demonstra interesse pela leitura. A mãe contou que Gilson apresentou-se uma vez na empresa em que ela trabalha e quando viu a intervenção teve muita vontade de mostra-la para filha. Neliane e Carolina, alunas do SOS Vestibular, ficaram encantadas com a Intervenção Poética “Realejo”, as amigas destacaram que o cotidiano acaba nos fazendo esquecer a leitura e que esse estímulo é muito importante. Com sorriso no rosto completaram: “Ele deixou nosso dia melhor”.
A poesia continuou animando as primeiras horas da “Overdose”, só que dessa vez misturada com música. O show “Poeta de Rima Pobre” também foi uma das atrações que embalou a hora do almoço no Sesc Deodoro. O show faz parte do “Projeto Cordão de Feira” que reúne cinco amigos que misturam poesia falada e composições autorais baseadas nessas poesias.
Os músicos Adefran Serra (violão), Memel Nogueira (baixo), Gileno Lúcio (percussão) e Walbert Guimarães (vocal e poeta), comandaram o show que foi originalmente pensado para o lançamento do livro homônimo, lançado no mês passado na Feira do Livro de São Luís. Walbert, cantor e poeta, destaca a importância de projetos como a Aldeia Sesc para a cultura da cidade: “É de suma importância, São Luís é uma cidade de muitos artistas e poucos palcos”.
O teatro como crítica social também esteve presente através da Performance “Entremeios” do Núcleo Experimental de Estudos em Teatro (NEET). A performance que entrelaça temas como o teatro, arte e tecnologia foi apresentada por 15 atores, que integram o núcleo de pesquisa. O coordenador do projeto, Ivaldo Júnior, destacou a importância desta 1° apresentação do grupo na 8° Aldeia Sesc Guajajara de Artes: “Estamos ensaiando há seis meses, essa é uma ótima oportunidade de aliar experimentação prática e teórica”.
A atriz Thaís Noleto, de 26 anos, participa pela segunda vez da Aldeia Sesc. No ano passado, ela atuou na peça “O Mulato” e este ano compôs o elenco da “Entremeios”. Thaís ressaltou que sua paixão pelos palcos é antiga: “Sempre gostei de arte e teatro, acabei entrando no NEET para aprofundar meus conhecimentos, o teatro é uma oportunidade de expressar o que temos em mente”. A performance abordou o impacto das tecnologias de comunicação na vida pessoas e como essas ferramentas interferem no relacionamentos dos indivíduos.
“Entremeios” é uma denúncia, que quer despertar a crítica das pessoas para a sociedade alienada que vem se desenvolvendo no decorrer dos anos com os padrões sociais que acabam limitando o pensamento do homem. Em uma reflexão sobre o tempo, comunicação e tecnologia, a performance representou uma realidade que vem se naturalizando nos seres humanos, mas que não se sabe se é de todo modo saudável.
NAURO MACHADO
Fechando com chave de ouro, a programação contou com três shows musicais que agitaram o público na Praça Nauro Machado. Quem abriu a noite foi a banda Baré de Casco com seu repertório de música brega tocada em outros ritmos, a exemplo do rock e do samba rock.
Depois quem subiu ao palco foi a talentosa cantora Natália Ferro, cantora de MPB que trouxe como destaque para a noite de encerramento da Aldeia Sesc o som cruzado pelo metal.
A última atração da noite foi a Banda Babi Jaques e os Sicilianos, de Pernambuco, com uma apresentação diferente que misturou música e outras linguagens artísticas. Esse a proposta musical do grupo que cria trilhas sonoras para as letras, causando múltiplas sensações por meio do som.