De forma ousada e sem meias palavras, a Cia Atores de Laura emocionou o público com o monólogo “O Filho Eterno”, apresentado na noite desta terça-feira, 16, no Teatro Arthur Azevedo. A apresentação trouxe o drama de um pai que recebe a notícia que seu tão esperado filho nasceu com Síndrome de Down. A história se passa nos anos 80, quando não havia muita informação sobre o assunto.
Nessa época, o personagem interpretado pelo ator Charles Fricks vive a euforia de saborear a missão de ser pai pela primeira vez aos 28 anos de idade. Fato frustrado com o nascimento do filho com Síndrome de Down.
Dos olhos brilhantes dos primeiros minutos de encenação à consternação solitária no quarto da maternidade, após o anúncio frio dos médicos, o pai parece caminhar para a loucura. Fiel ao relato do livro de Tezza, o monólogo é composto por frases fortes e impactantes, como: “Não há mongoloides na história. Nem Dostoiévski cita este sempre atento aos humilhados e ofendidos”, desabafa o jovem pai, no limite entre a perplexidade e a tentativa de se segurar numa falsa normalidade de vida.
Esse sentimento é evidente durante toda a trama. O pai vive a luta diária de lidar com as decepções que um filho pode trazer, focando no desafio das limitações, sem perder o olhar elegante. E dessa forma pai e filho vão aprendendo um com o outro e juntos vão vivendo alegrias e surpresas, como a primeira palavra do garoto após presenciar uma discussão de seu pai no trânsito e a espontânea expressão metafórica empregada enquanto se preparavam para assistir ao jogo de futebol, quando seu pai jamais cogitasse que isso seria possível.
É nesse desenrolar que a público é envolvido do início ao fim do espetáculo concluindo que a duras penas, esse pai irá aprender a amar essa criança, na qual vai dedicar boa parte da sua vida. O tom poético toma forma de reflexões que envolvem a paternidade expressos por inesperadas frases de impacto ao longo do espetáculo.
A mensagem que o espetáculo passa é a intolerância, explica Charles durante o bate-papo após a apresentação: “Não vejo como sendo uma peça que fala unicamente da síndrome de down, mas como não sabemos lidar o que é diferente de nós. A universalidade do livro está neste ponto, ao falar da dificuldade de aceitarmos o que não é como a gente queria que fosse”.
Primeiro espetáculo do Palco Giratório em São Luís, “O filho eterno” é uma montagem da Cia de Atores da Laura que já está com 18 anos de estrada. Dirigido por Daniel Herz, o texto passou por um longo processo de adaptação até sua estreia.
O texto original é do premiado livro de Cristovão Tezza ganhou uma versão para o palco no primeiro monólogo produzido pela Cia Atores de Laura que é homônimo "O Filho Eterno". Tanto a obra literária como a versão teatral receberam vários prêmios. O primeiro lhe rendeu oito importantes prêmios, incluindo o Jabuti 2008 de melhor livro, enquanto a peça foi vencedora do Prêmio Shell de melhor ator.