Ainda existe muito preconceito quando o assunto é diversidade sexual. Em pleno século XXI, o tema homossexualidade é motivo de debate no meio religioso como também nos meios de comunicação social. Mesmo conquistando espaço em diversas áreas, na maioria das vezes, um homossexual ainda vive a segregação. Trazendo a tona os dilemas de travestis e transexuais, o Coletivo Artístico “As Travestidas” trouxe para o palco do Teatro João do Vale nesta terça-feira (29), o espetáculo “Uma Flor de Dama”.
O monólogo parte de um texto do Caio Fernando Abreu adaptado e dirigido por Silvero Pereira, que interpreta a travesti Gisele que, assim como muitos outros, não possuem escolha que não seja a prostituição e assim vivem experiências como preconceito, violência, dores e alegrias.
A força cênica do ator arrancou risos e aplausos da plateia que lotou o teatro. Num cenário simples, formado apenas por uma mesa de bar e uma cadeira, Silvero promove uma reflexão sobre o cotidiano dos travestis que vivem na noite, como personagens de uma história que criam para sucumbir à solidão.
Sem cair no didatismo, “Dama da Noite” aborda ainda o problema HIV, como um dos fantasmas que assombra quem já convive com a realidade da exclusão do sistema e a marginalização.
O desfecho do espetáculo não ficou apenas nas cenas finais, pois o tema atiçou a curiosidade do público que permaneceu no teatro para o Pensamento Giratório que aconteceu após a apresentação, quando puderam conversar com o artista sobre o processo de concepção do solo.
Conforme explicou Silvero, o tema faz parte de uma pesquisa que desenvolve in loco com pessoas do gênero como propósito de quebra do “pré-conceito” imposto pela sociedade, além de uma empreitada valente no sentido da desassociação que se faz entre as travestis e a marginalidade ou mesmo com a prostituição.
Os trabalhos desenvolvidos a partir dessa pesquisa possuem um olhar que vai além do estereótipo e dos preconceitos existentes a respeito das travestis.
Uma Flor de Dama estreou em 2005, pelo grupo Parque de Teatro. Nesse trabalho, além de interpretar, Silvero assina direção, adaptação do texto, cenário, figurino, maquiagem e sonoplastia. O solo participou atualmente de mais de 16 festivais por todo o Brasil, circulando pelos estados do Ceará, Pernambuco, Pará, Rio Grande do Norte, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e o Distrito Federal).
OFICINA
Além do espetáculo, Silvero Pereira ministra nesta quarta-feira (30), a oficina “A construção da travestilidade como personificação do ator performático”, das 9 às 12 horas e das 14 até às 17 horas, na Sala de Dança do Teatro Arthur Azevedo.
A oficna demonstra os procedimentos e treinamentos realizados nos processos criativos do Coletivo As Travestidas: a construção do “corpo-trans”, por meio de uma metodologia teórica e prática, a oficina aborda a história da travestilidade na arte, mais especificamente no teatro, bem como laboratórios corporais, emoção, improvisação, criação de personagem e jogos entre atores.
Participam da oficina atores, bailarinos, travestis, transformistas e público em geral, como iniciantes em práticas de estudos corporais e processo criativo (estudantes de artes cênicas).